Elieni Caputo – As coisas de verdade habitam as pedras

Após o corajoso exercício de autoficção e ensaio sobre o tratamento psiquiátrico em nosso país apresentado em Laço de Fita, o mais recente lançamento de Elieni Caputo – que chamaremos também de romance na falta de uma definição melhor – é uma obra de caráter experimental com base na alternância das vozes narrativas de dois personagens, como em Um sopro de vida de Clarice Lispector.

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Após o corajoso exercício de autoficção e ensaio sobre o tratamento psiquiátrico em nosso país apresentado em Laço de Fita, o mais recente lançamento de Elieni Caputo – que chamaremos também de romance na falta de uma definição melhor – é uma obra de caráter experimental com base na alternância das vozes narrativas de dois personagens, como em Um sopro de vida de Clarice Lispector. Neste livro, Elieni parte da inusitada estrutura de diálogo entre uma princesa e um sapo para abordar as suas próprias reflexões existenciais em uma prosa com sabor de poesia e que, no final, funciona como um surpreendente fluxo de consciência.

Para entender as tais coisas de verdade que habitam as pedras e que a autora tenta descrever, precisamos deixar um pouco de lado a objetividade e as convicções do cotidiano, compartilhar o estado de sonho proposto no livro e ocupar um improvável espaço entre o consciente e o inconsciente: “Não sou preenchida porque guardo sonhos em mim e eles não têm solidez. Sou assim vazia de sentido. A realidade pesa, é cheia de certezas, e o mal se nutre das convicções. A dúvida é um cuidado com onde se pisa, é uma delicadeza ao se aproximar do outro e ao tocá-lo. Não me fira mais porque fui feita sem carapaça, careço da dureza que protege.” 

A solidão nos acompanha em boa parte da vida e também na morte, mas como ensina a autora: “A certeza de ser só é o primeiro passo pra compartilhar a alegria, é estar consigo para poder estar com os outros e abraçar. O abraço, a primeira ponte. […]” A bem-cuidada edição do livro conta também com aquarelas de Fabiana Carelli e estruturas gráficas que complementam o texto da mesma forma como em uma publicação infantil, fazendo com que a assimilação dos temas abordados e a experiência de leitura se tornem um pouco mais leves.

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