Jean Portante e o tremor das palavras

Depois do Tremor é um livro que fecha um tríptico e abre um novo ciclo. Antes deste livro, Jean havia publicado duas obras, como O Trabalho do Pulmão em que aludia à língua que respirava nesse pulmão, o italiano, língua da sua origem.

De Revista Caliban – Leia a matéria completa aqui.

Depois do Tremor é um livro que fecha um tríptico e abre um novo ciclo. Antes deste livro, Jean havia publicado duas obras, como O Trabalho do Pulmão em que aludia à língua que respirava nesse pulmão, o italiano, língua da sua origem. Depois veio A Reinvenção do esquecimento, onde já estava presente o tremor de terra que abalou a sua região natal, que evoca sobretudo a questão da memória.

Com Depois do Tremor, obra que se publica agora em português, é o testemunho poético desse abalo, que ocorre a vários níveis. Não só o do tremor propriamente dito, mas o tremor da língua, em que desaparece a língua que se respirava: o italiano. Todos os sinais dessa deserção da língua conferem a esta poesia uma atmosfera melancólica, tocada pela memória da perda. E, se atentarmos na dedicatória com que se inicia a obra, a perda faz-se a dois níveis: a San Demetrio, aldeia destruída pelo tremor de terra e a da sua mãe.

Logo na nota de autor, Jean Portante adverte o leitor, para que a entrada nesta obra, nem sempre de ´fácil leitura, seja mais clara para o leitor: «A terra tremeu em Aquila e nos arredores, no dia 6 de Abril de 2009 e o tremor destruiu a paisagem interior. Esta que, sem cessar, metia e escondia nos meus poemas. Ela era feita de pulmão de baleia e de memória a reinventar». A paisagem interior é a paisagem que Jean Portante evoca nos seus romances e na sua poesia. Ela é transversal na sua escrita. A paisagem dos seus antepassados e a própria paisagem da sua infância, passada em tenra idade, nesta zona de Itália. Quando o poeta alude ao pulmão da baleia, ele evoca metaforicamente a migração do seu povo e a sua própria, abandonando não apenas o território geográfico, mas também a língua italiana. O pulmão da baleia, aquilo que a faz respirar é a sua origem, que permanece na memória da baleia. Para concluir, nessa mesma nota, diz o poeta: «A minha memória é agora o fantasma do esquecimento». O tremor apaga aquilo que permanecia na memória, arrasa a terra, mas também a memória da infância e da própria língua. Por isso ele diz «fechar-se um ciclo».

A obra encontra-se dividida em 4 partes, cujos títulos são «Do que advém e não advém», «O fabricante de sul», «Os três tremores do jardim», que se subdividem em três partes, e o último: «Fragmentos do diário de um tremor». Muitos dos poemas são estrofes que são constituídas por 14 versos, falamos sobretudo de sonetos monostróficos». Porém, Jean confere a estas formas clássicas uma modernidade, tanto nos temas, como na própria forma e na sintaxe, onde está ausente a pontuação e o ritmo da leitura deixa-se conduzir organicamente.

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